sábado, 17 de janeiro de 2009

Anarquia!Oi, oi!

Anarquismo

Freqüentemente identificado com a violência indiscriminada e com a negação de todos os valores estabelecidos, o anarquismo, para além dos excessos que possam ter gerado essa caricatura, é no entanto um capítulo de grande importância na história política e social do Ocidente, desde o fim do século XVIII.

Como concepção vital, o anarquismo (do grego ánarkhos, “sem governo”) afirma que tudo o que limita a liberdade do ser humano deve ser suprimido. Como movimento político e social, pretende destruir os freios -- religião, Estado, propriedade privada, lei -- que, segundo suas teorias, se interpõem entre o indivíduo e sua liberdade, para assim possibilitar a construção de uma vida comunitária livre e solidária.

História

O primeiro teórico moderno do anarquismo talvez tenha sido o inglês William Godwin, que em seu ensaio Enquiry Concerning Political Justice (1793; Indagação relativa à justiça política) antecipou muitas das questões ideológicas que tomariam forma anos mais tarde. Outro antecedente do movimento anarquista foi a “conspiração dos iguais”, dirigida por Gracchus Babeuf, pouco depois da revolução francesa. Foi a primeira tentativa de colocar a igualdade real dos cidadãos acima da igualdade política consagrada pela revolução.

O desenvolvimento do anarquismo ao longo da primeira metade do século XIX foi paralelo ao do movimento socialista. Durante muitos anos houve momentos de ação comum entre anarquistas e socialistas, até que os dois campos ideológicos se desvinculassem claramente.

Em 1840, o francês Pierre-Joseph Proudhon publicou Qu'est-ce que la propriété? (Que é a propriedade?), em que aparecia a conhecida frase: “A propriedade é um roubo.” Cinco anos mais tarde, o alemão Max Stirner divulgava Der Einzige und sein Eigentum (O indivíduo e sua propriedade), no qual desenvolvia idéias muito semelhantes às de Proudhon.

Depois da morte deste, em 1865, o principal representante do anarquismo foi o russo Mikhail Bakunin, que integrou o movimento à Associação Internacional de Trabalhadores, ou Primeira Internacional Operária, fundada em 1864. A cisão dessa entidade, no Congresso de Haia de 1872, deixou em mãos anarquistas o controle das organizações de trabalhadores em diversos países: Bélgica, Países Baixos, Reino Unido, Estados Unidos e, especialmente, Espanha e Itália, onde só o advento do fascismo foi capaz de destruir a influência anarquista sobre as massas operárias.

Apesar de um aparente ressurgimento nos últimos anos da década de 1960, o movimento anarquista, como organização de massas, não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial. Porém muitas de suas teses, como a de que o Estado se interpõe entre o ser humano e sua realização pessoal, chegaram a tornar-se triviais entre numerosos pensadores de todo o mundo.

Ideologia anarquista

Segundo o anarquismo, todos os tipos de autoridade -- política, religiosa etc. -- são contrários à liberdade individual e devem por isso ser repelidos e eliminados. Um contrato individual livremente aceito pelos homens asseguraria a justiça e a ordem. Dessa forma, uma infinidade de contratos livremente consentidos geraria um sistema em equilíbrio dinâmico, um sistema federal, em que a solidariedade seria muito superior à obtida nos sistemas baseados na autoridade e na coerção.

Denúncia da falsa democracia

O Estado moderno -- afirma o anarquismo -- encontra sua legitimação na ficção democrática do sufrágio universal, que consiste em atribuir a cada cidadão o direito de um voto. Isso cria a ilusão de que o povo governa a si mesmo, quando, na verdade, as múltiplas manipulações do sistema levam à preservação da desigualdade entre ricos e pobres, entre poderosos e usurpados, apesar das aparências de igualdade jurídica. Por isso, o militante anarquista sempre se absteve de votar nas eleições, em cujas virtudes não crê.

Propriedade, liberdade, solidariedade

No início, alguns pensadores anarquistas consideravam a propriedade privada indispensável à liberdade do indivíduo. Mas na evolução das idéias anarquistas chegou um momento, no fim do século XIX, em que triunfou a concepção oposta, sustentada pelo russo Piotr Kropotkin. Segundo ele, a supressão do Estado e das instituições opressoras do homem acarretaria também o desaparecimento das desigualdades e o nascimento de uma sociedade nova, na qual -- de acordo com o princípio de Marx -- cada um daria segundo suas capacidades e receberia segundo suas necessidades. Portanto, a liberdade e a solidariedade constituem dois aspectos inseparáveis do mesmo fenômeno humano. São as duas faces de uma mesma moeda e uma não pode existir sem a outra. Na segunda metade do século XX, contudo, houve um renascimento ideológico do anarquismo libertário, que defendia a propriedade privada, em autores como o americano Robert Nozick.

Aperfeiçoamento individual

Os anarquistas têm uma ética muito característica. A convicção de que a sociedade não vai melhorar por ação do Estado ou de qualquer outra instituição, e de que na consecução da nova sociedade cabe ao indivíduo um papel primordial, tem como resultado a formação de um forte sentido moral, de um permanente esforço de superação de si mesmo. Não foi por acaso que os movimentos anarquistas do começo do século XX se fizeram acompanhar da criação de ateneus, sociedades culturais e todo tipo de iniciativa para o aperfeiçoamento intelectual dos indivíduos.

7 comentários:

Anônimo disse...

"(...) Isso cria a ilusão de que o povo governa a si mesmo (...)"

Perfeito!

Priscila disse...

Que ótima aula de história por aqui!

grupo gauche disse...

Pois é, muitas vezes as pessoas dizem seguir tal ideologias, ideais, pensamentos, correntes e mal sabem a história ou a trajetória das mesmas...
muito bom o blog tratar desse tema, parabens

Pádua disse...

AAAANARCHY!!!

KathY CatherYne disse...

Gostei.,., Qndo a gnt ouve de outras pessoas, elas sempre associam anarquismo com terrorismo, baderna, etc. Na época da ditadura, através da propaganda, o governo militar conseguiu difundir a idéia de que anarquismo era bagunça, baderna etc: por isso até hj tem gnt q gosta de usar a palavra "anarquismo" como se fosse sinônimo de desordem e caos. Realmente fico muito triste qndo ouço alguém usando essa palavra de forma pejorativa, pois isso mostra que n evoluímos muito a nossa educação.,.,


KthY?

KathY CatherYne disse...

Lendo o post, lembrei de Henri David Thoreau, autor do livro Desobediência Civil:

"Com apenas 13 páginas, esse pequeno e impactante livro foi escrito 71 anos depois da independência das colônias norte-americanas. Thoreau faz um protesto contundente contra um país - os Estados Unidos - que se diz democrático, mas que tem um sexto da população composta de escravos e cujo exército invadira o México em uma guerra sangrenta. Para o autor, se um governo que se denomina democrático toma decisões às quais a maioria da população é contrária, por que financiá-la com o pagamento de impostos? Segundo ele, "o melhor governo é o que não governa de modo algum".
(...)
O livro é uma espécie de manual do anarquismo pacífico contra os poderes constituídos. A obra de Thoreau sobre a desobediência civil exerceu forte influência no mundo - por exemplo nos conceitos de resistência desenvolvidos por Gandhi, fornecendo as bases teóricas para o movimento que culminou com a libertação da Índia da mão dos britânicos".


Pronto, já escrevi d+, até.

KthY?

Ari Lopes disse...

Muito obrigado pela visita ao meu Blog e comentário.
O anarquismo como conceito é super válido. Ocorre que o termo remete leigos a associarem anarquismo com desorganização e bagunça.
Numa sociedade moralmente evoluída, o que ainda é utopia, o governo tenderia a ser cada vez menos necessário ou seja, se caminharia para um sistema anárquico.
Numa sociedade moralmente pouco evoluída e corrupta, os governos tendem a defenderem seus próprios interesses e a usarem a ignorância do povo para se manterem no poder.