sábado, 11 de abril de 2009

A Servidão da alma através do corpo...



A Saturação da Servidão
Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão. As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...) Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos. Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.
Um grande terror sucede à saturação da servidão. Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma. Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

Um comentário:

Byers disse...

Cara, não concordo nenhum tiquinho com o que essa pessoa disse! rs

Pelo contrario, as pessoas estão cada vez mais serviçais!

:)

Mas oh, te vi la no blog da Petite Femme, o Mente Improdutiva, dissertando sobre a ocasião da minha revista online.

Dai curioso que eu so vim no seu blog conhecer os seus textos. E vi que gosta de filosofia tanto quanto eu !

E eu estava justamente pensando em colocar um artigo de filosofia na proxima edição...

:) o que acha cara?